Relatório da China condena ‘hegemonia dos EUA’, crimes de guerra, golpes da CIA e 400 intervenções estrangeiras
O Ministério de Relações Exteriores da China publicou um extenso relatório condenando a “hegemonia dos EUA” e os seus crimes em todo o mundo
Artigo de Ben Norton originalmente publicado no Geopolitical Economy Report em 25/2/23. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247
O governo chinês publicou um extenso relatório condenando a “hegemonia dos EUA” e os seus efeitos destrutivos no mundo.
O documento analisa as maneiras pelas quais os EUA “abusaram” politicamente, militarmente, economicamente, financeiramente, tecnologicamente e culturalmente da sua hegemonia.
O Ministério de Relações Exteriores da China assinalou que Washington tem aproximadamente 800 bases militares no estrangeiro no mundo todo e lançaram 400 intervenções militares.
Os EUA cometeram genocídio contra nações indígenas, impuseram o seu colonialismo da “Doutrina Monroe” na América Latina e anexaram territórios independentes como o Havaí, assinalou Pequim.
A China denunciou os EUA por patrocinarem golpes, operações de mudança de regimes e “revoluções coloridas” em dezenas de países, enquanto espalhavam constantemente “desinformação” e propaganda para desestabilizar adversários estrangeiros.
Desde junho de 2001, as guerras dos EUA mataram centenas de milhares de civis, feriram milhões e criaram dezenas de milhões de refugiados, lembrou Pequim.
Estes fatos devastadores foram expostos no relatório “US Hegemony and Its Perils” [A Hegemonia dos EUA e os seus Perigos], o qual o Ministério das Relações Exteriores da China lançou em 20 de fevereiro de 2023. Este foi subsequentemente republicado pelos principais veículos de mídias chineses.
Pequim disse que a meta do relatório foi de “chamar uma maior atenção internacional para os perigos das práticas dos EUA para a paz mundial e a estabilidade e bem-estar de todos os povos”.
O Ministério de Relações Exteriores escreveu:
Desde quando se tornaram o país mais poderoso do mundo, após as duas guerras mundiais e a Guerra Fria, os EUA agiram mais audaciosamente para interferir nos assuntos internos de outros países, para buscar, manter e abusar da hegemonia, avançar a subversão e a infiltração e deliberadamente fazer guerras, causando o mal à comunidade internacional.
Os EUA desenvolveram um manual hegemônico para encenar “revoluções coloridas”, instigar disputas regionais e até lançarem guerras diretamente sob o disfarce de promover a democracia, a liberdade e os direitos humanos.
Agarrando-se à mentalidade da Guerra Fria, os EUA aumentaram as políticas de blocos e alimentaram conflitos e confrontações.
Eles ampliaram demais o conceito de segurança nacional, abusaram de controles de exportações e forçaram sanções unilaterais sobre outros.
Eles tomaram uma abordagem seletiva sobre as leis e regras internacionais, utilizando-as ou descartando-as como bem lhe aprouvesse, e buscaram impor as regras que sirvam aos seus próprios interesses, em nome de sustentarem uma “ordem internacional baseada em regras”.
Hegemonia política
A China condenou os incontáveis exemplos da “interferência dos EUA nos ‘assuntos internos’ de outros países”.
Ela assinalou que os EUA tratam a América Latina como seu território colonial com a chamada “Doutrina Monroe”.
Pequim denunciou o bloqueio ilegal de Washington de 61 anos sobre Cuba; o golpe da CIA em 1973 no Chile contra o presidente socialista democraticamente eleito Salvador Allende; e a tentativa do governo Donald Trump de derrubar o governo democraticamente eleito da Venezuela.
Da mesma forma, a China denunciou as “revoluções coloridas” e as operações de “mudanças de regime” que os EUA apoiaram na Geórgia, na Ucrânia, no Quirguistão e mais além.
“Os EUA praticam padrões duplos sobre as regras internacionais. Colocando o seu próprio interesse em primeiro lugar, os EUA se retiraram dos tratados e organizações internacionais, e coloca a sua lei doméstica acima da lei internacional”, escreveu Pequim.
“Os EUA julgam arbitrariamente a democracia em outros países e fabricam uma falsa narrativa de ‘democracia versus autoritarismo’ para incitar o estranhamento, a divisão, a rivalidade e a confrontação”, eles adicionam.
Hegemonia militar
“A história dos EUA se caracteriza pela violência e a expansão”, o Ministério de Relações da China escreveu, explicando:
Desde quando conquistou a sua independência em 1776, os EUA têm buscado constantemente expandir-se pela força: eles massacraram os índios, invadiram o Canadá, fizeram uma guerra contra o México, instigaram a guerra Hispano-Americana e anexaram o Havaí.
Após a Segunda Guerra Mundial, as guerras provocadas ou lançadas pelos EUA incluem a Guerra na Coreia, a Guerra no Vietname, A Guerra do Golfo, a Guerra em Kosovo, a Guerra no Afeganistão, a Guerra no Iraque, a Guerra na Líbia e Guerra na Síria — abusando da sua hegemonia militar para abrir caminho para os seus objetivos expansionistas.
Nos anos recentes, o orçamento militar médio dos EUA excedeu os US$ 700 bilhões, sendo responsável por 40% do total mundial, mais do que os 15 países seguintes combinados.
Os EUA têm cerca de 800 bases militares no exterior, com 173 mil soldados alocados em 159 países.
“Como o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter disse, sem dúvida, os EUA são a nação mais bélica na história do mundo”, adicionou Pequim.
Eles citam um relatório da Universidade Tufts, que descobriu que os EUA executaram quase 400 intervenções militares entre 1776 e 2019.
Desde 2001, as guerras dos EUA mataram centenas de milhares de civis, feriram milhões e criaram dezenas de milhões de refugiados, assinala a China.
Hegemonia econômica
“Ao tirar vantagem do status do dólar como a principal moeda internacional de reserva, os EUA basicamente coletam ‘senhoriagem’ de todo o mundo; e usando o seu controle das organizações internacionais, eles coagem outros países a servirem à estratégia política e econômica dos EUA”, escreveu o Ministério de Relações Exteriores da China.
Eles identificam a “hegemonia do dólar estadunidense” como “a principal fonte de instabilidade e incerteza na economia mundial”.
Através do uso de sanções e outras medidas, “os EUA suprimem intencionalmente os seus oponentes com coerções econômicas”, e “a hegemonia econômica e financeira dos EUA se tornou uma arma geopolítica”, advertiu Pequim.
Hegemonia tecnológica
“Os EUA buscam deter o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico de outros países ao brandir o seu poder de monopólio, medidas de supressão e restrições tecnológicas nos campos de alta tecnologia”, disse a China.
Pequim condenou o uso global de Washington de ataques e vigilância cibernéticos.
“Os EUA monopolizam a propriedade intelectual em nome da proteção”, eles escreveram.
“Os EUA politizam e transformam em armas as questões tecnológicas e as usam como ferramentas ideológicas”, eles adicionam.
Hegemonia cultural
“Os EUA têm usado frequentemente ferramentas culturais para fortalecer e manter a sua hegemonia no mundo”, disse o Ministério de Relações Exteriores da China.
Washington usa filmes, shows de TV e veículos de mídias como armas de ‘soft power’, assinala Pequim.
“As mídias ocidentais dominadas pelos EUA têm um papel especialmente importante em modelar a opinião pública global a favor das intromissões dos EUA nas questões internas de outros países”, escrevem eles.
Citando uma reportagem do The Intercept, o Ministério das Relações Exteriores da China assinalam como “o Departamento de Defesa dos EUA manipula as mídias sociais”, espalhando propaganda no Twitter, no Facebook e em outras plataformas.
“Os EUA usam a desinformação como uma lança para atacar outros países, e construíram uma rede industrial em torno desta”, adverte Pequim.
A propaganda dos EUA “visa os países socialistas” em especial, eles notam, salientando que Washington “despeja impressionantes quantias de fundos públicos em redes de rádio e TV para apoiar a sua infiltração ideológica, e estes canais bombardeiam os países socialistas em dezenas de idiomas com propagandas inflamatórias dia e noite”.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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